Estudar o potencial de estoque e sequestro de carbono em manguezais acrescidos, ou seja, que cresceram em áreas aterradas da Grande Florianópolis, comparando com ecossistemas de áreas naturais, é o objetivo principal de uma linha de pesquisa em desenvolvimento pelo Projeto Raízes da Cooperação, com apoio da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Nos últimos meses, foram realizadas coletas de amostras do solo em quatro pontos de manguezais. Dois em áreas acrescidas da beira-mar sul de São José e da Via Costeira, rodovia que liga a região centro-sul de Florianópolis. Ambas são regiões que foram aterradas para urbanização. Ao longo do tempo, os manguezais foram colonizando alguns pontos desses trechos aterrados e se restabelecendo. Também foram coletadas amostras de solo de outros dois manguezais naturais, na Reserva Extrativista Pirajubaé e na Estação Ecológica Carijós, ambas em Florianópolis.
O objetivo do estudo é saber se os manguezais acrescidos têm a mesma capacidade dos naturais em estocar carbono na biomassa do solo. “O solo dos manguezais tem alta capacidade de estoque de carbono, por isso optamos pelas análises principais serem do solo e não das raízes e folhas”, explica a bióloga e bolsista do projeto, mestranda em Oceanografia Química pela UFSC, Aline Zanetti.
As amostras foram enviadas para análise num laboratório parceiro da universidade, na Suécia, e os resultados devem ser entregues em novembro deste ano. “Retiramos amostras de solo na profundidade de 1 metro, com estratificação em camadas dos manguezais acrescidos e dos naturais”, explica.
As raízes dos manguezais também serão coletadas e analisadas ao longo da pesquisa científica. “Iremos analisar amostras de raízes no laboratório da UFSC. O objetivo é converter a biomassa das raízes em carbono, fazendo a medição em cada uma e ver se existe o mesmo potencial de estoque de carbono nas raízes dos mangues acrescidos e naturais”, acrescenta.
O projeto Raízes da Cooperação, executado pela Ação Nascente Maquiné (ANAMA), em parceria com a Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, tem como objetivo principal contribuir para a conservação dos manguezais e ecossistemas associados da Grande Florianópolis. A conservação desses ambientes naturais tem papel importante na mitigação das mudanças climáticas, devido à capacidade de sequestro e estoque de carbono azul.
Carbono azul se refere ao carbono sequestrado, armazenado e liberado pelos ecossistemas costeiros e marinhos, como os manguezais. As plantas que vivem na água desses ecossistemas marinho-costeiros sequestram grandes quantidades de carbono da atmosfera e as armazenam em seus sedimentos e solos por um longo período.
Importante também destacar o papel que os manguezais desempenham na adaptação das regiões costeiras aos impactos das mudanças do clima. “Os manguezais são essenciais na contenção da erosão costeira, prevenindo impactos do avanço do nível do mar. Reduzem danos causados por enchentes e são os grandes berçários da vida marinha. Os benefícios de sua conservação são inúmeros”, ressalta Zanetti. De acordo com o relatório especial do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), as mudanças climáticas em curso expõem as cidades litorâneas ao aumento do nível do mar, a mudanças na frequência e intensidade de tempestades, e ao aumento na precipitação e na temperatura dos oceanos.
Neste contexto, ainda segundo o relatório do PBMC, as cidades costeiras brasileiras demandam investimentos e medidas de adaptação frente às mudanças climáticas, com foco na redução de riscos e minimização dos impactos ocasionados pelos eventos extremos climáticos.
Por esses motivos, o conhecimento do potencial de estoque de carbono, bem como a reabilitação e a restauração dos manguezais devem compor as estratégias das cidades costeiras para mitigar as mudanças climáticas e para se adaptar às suas possíveis consequências.