Depois de quatro meses, o Projeto Raízes da Cooperação atingiu a meta total de corte e manejo de 7,72 hectares de pinus de duas ilhas, em Palhoça. A área invadida pela espécie exótica corresponde a sete campos de futebol e voltará a dar espaço para as espécies nativas da Mata Atlântica.
Realizado em parceria com a Petrobras, através do Programa Petrobras Socioambiental, o Projeto Raízes da Cooperação cortou esses mais de 77 mil metros quadrados de pinus de duas ilhas, uma no Rio da Madre e outra no Rio Maciambu, com o objetivo de restaurar as áreas de restinga e manguezais desse território. A conservação desses ambientes naturais tem papel importante na mitigação das mudanças climáticas, devido à capacidade de sequestro e estoque de carbono.
Introduzida para produção de celulose em meados dos anos 60, o pinus se dispersou facilmente na região através do vento, por ter facilidade em se adaptar em áreas degradadas por pastagens de gado. É importante ressaltar que a invasão de espécies exóticas é considerada uma das maiores causas da perda de biodiversidade no mundo.
“Por ser uma espécie invasora, o pinus coloniza grandes áreas, competindo e inibindo a regeneração natural de espécies nativas. Seu estabelecimento nessas áreas desencadeia um processo de homogeneização e simplificação da biodiversidade, já que animais e outros organismos já não encontram mais fonte de alimento e abrigo nesses locais”, explica o engenheiro agrônomo, Percy Ney Silva, coordenador técnico e fundador do Instituto Çarakura.
“Ao retirar o pinus, vamos possibilitar que entre luz nesses ambientes onde estão os manguezais e restingas, proporcionando a melhoria no crescimento da vegetação e o aumento da resiliência desses ecossistemas, extremamente importantes na mitigação dos impactos das mudanças climáticas, como enchentes e aumento do nível do mar”, ressalta o coordenador do projeto, Dilton de Castro.
Após o corte e manejo dessas espécies exóticas, o Projeto Raízes da Cooperação, executado pela Ação Nascente Maquiné (ANAMA,) promoverá o plantio de espécies nativas da Mata Atlântica, por meio de 5 mutirões de plantio. Ao todo, serão plantadas 3 mil mudas de espécies de mangues e de restinga nessas ilhas e também no entorno do Centro de Visitantes do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro (PAEST), totalizando uma área de 10 hectares. Além dos benefícios ambientais diretos nesses ambientes restaurados, a conservação desta área é capaz de promover a proteção e a resiliência em um total de 54 hectares de mangues, restingas, banhados e florestas do território.
Pinus cortados são transformados em canteiros:
Com apoio do Instituto Çarakura nas ações de restauração do projeto, após cortados, os pinus estão sendo divididos em pedaços menores e colocados em forma de canteiros, que ao longo do tempo proporcionarão matéria orgânica, incremento de carbono e microrganismos no solo. A preparação de canteiros é um processo de recuperação de áreas com solo degradado.
“Esses conjuntos com troncos e galhos das árvores de pinus em diferentes formatos geram acúmulo de material lenhoso, que, ao se decompor, libera nutrientes e melhora a qualidade do solo. Isso facilita o restabelecimento de espécies que se tornaram raras ou ameaçadas, ampliando a capacidade da restauração”, explica Percy.
Esses canteiros feitos com os troncos ajudam também na estabilização do solo nos casos de áreas que apresentam processos erosivos, como os barrancos nas margens de rios e encostas. “Depois de cortados, os pinus não rebrotam, e, se forem plantadas espécies nativas regenerantes, em processos e métodos que aceleram a restauração, as poucas sementes de pinus que brotarem poderão ser usadas como fonte de biomassa rica em nitrogênio. Porém é necessário haver monitoramento periódico associado ao manejo continuado da rebrota”, salienta o engenheiro agrônomo.
Saiba mais sobre o Raízes a Cooperação:
O Projeto Raízes da Cooperação está atuando com pesquisa, educação e restauração, visando a conservação dos manguezais e ecossistemas associados inseridos na região hidrográfica litoral centro de Santa Catarina, englobando áreas do município de Palhoça, São José e Florianópolis.
O projeto atua na bacia hidrográfica com o maior índice populacional do Estado de Santa Catarina, onde também estão as principais nascentes de água para abastecimento da Grande Florianópolis. As principais ameaças a esses ambientes vêm da urbanização, de espécies exóticas invasoras, do esgoto, de incêndios e do aumento do nível do mar.
A área de abrangência do projeto inclui comunidades tradicionais indígenas Mbya Guarani, pescadores artesanais, estudantes, professores, entre outras comunidades da região.
Pesquisas científicas estudam o estoque de carbono e aumento do nível do mar:
Estudar o potencial de estoque e sequestro de carbono em manguezais acrescidos, ou seja, que cresceram em áreas aterradas da Grande Florianópolis, comparando com ecossistemas de áreas naturais, é o objetivo principal de uma linha de pesquisa em desenvolvimento pelo Projeto Raízes da Cooperação, com apoio da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
O objetivo do estudo é saber se os manguezais acrescidos têm a mesma capacidade dos naturais em estocar carbono na biomassa do solo. “O solo dos manguezais tem alta capacidade de estoque de carbono, por isso optamos pelas análises principais serem do solo e não das raízes e folhas”, explica a bióloga e bolsista do projeto, mestranda em Oceanografia Química pela UFSC, Aline Zanetti.
A outra pesquisa científica, em nível de pós-doutorado, resultará na elaboração de projeções das áreas sujeitas à inundação costeira na Grande Florianópolis, baseado nas perspectivas futuras dos impactos das mudanças climáticas.
O objetivo é elaborar cenários, através de mapas, de elevação do nível do mar e cruzar esse mapeamento com os planos de ocupação territorial. A pesquisa ajudará a subsidiar estudos de vulnerabilidade e de ocupação futura da Grande Florianópolis.
Ciência Cidadã nas escolas e comunidades tradicionais:
As ações de Ciência Cidadã, através de um curso de formação que resultará em projetos aplicados nas escolas e nas comunidades tradicionais da área de abrangência do projeto têm apoio da UFSC, através do Programa de Pós-Graduação em Oceanografia, e da Agência de Gestão e Educação Ambiental (AGEA). Em Florianópolis, são voltadas para as comunidades do entorno da Estação Ecológica Carijós e Reserva Extrativista Pirajubaé. Essas duas Unidades de Conservação protegem os maiores remanescentes de manguezais da Ilha de Santa Catarina. Além disso, as escolas próximas ao Parque Serra do Tabuleiro, em Palhoça, também estão inseridas nessas ações.
As atividades de Ciência Cidadã devem beneficiar cerca de 1mil pessoas do entorno dessas áreas protegidas.