Sentir o mangue com os olhos vendados é “vivenciar de outra forma aquilo que você já tinha visto, mas com mais atenção e cuidado”, conta Bianca Parizzoto, do Instituto do Meio Ambiente (IMA), depois da atividade inicial de sensibilização da fase prática do curso “Ciência Cidadã e a Cultura Oceânica para o Enfrentamento da Emergência Climática”.
Foi assim que estudantes e profissionais da rede de educação pública, agentes ambientais públicos e ativistas de organizações não-governamentais da Grande Florianópolis começaram as atividades em campo da segunda etapa da formação, promovida pelo Projeto Raízes da Cooperação, em parceria com a Petrobras, através do Programa Petrobras Socioambiental.
A atividade sensorial de tocar e sentir o manguezal com os olhos vendados é um experimento da Bióloga e participante do curso Mila Rayssa, que acabou se tornando monitora da formação. “A minha estratégia de ação dentro do curso é experimentar essa atividade sensorial com os participantes. Tirando a visão das pessoas, como elas poderiam sentir o que está em volta delas? A gente fixa memórias com o que sentimos, não só com o que vemos. Dessa forma, fixando memórias, buscamos fazer com que a educação ambiental aconteça, para que a pessoa se sinta parte daquilo e crie memórias mais afetivas com seu território”, explica Mila.
Após dez encontros virtuais com aulas teóricas na primeira etapa, 30 participantes selecionados para a segunda etapa do curso estão tendo a oportunidade de aprimorar suas estratégias de ação, ou seja, seus futuros projetos, com atividades práticas em manguezais do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, na Estação Ecológica Carijós e no entorno da Reserva Extrativista Marinha do Pirajubaé.
“Nesta parte prática o público selecionado está aprimorando sua estratégia definida na primeira etapa e o que aprenderam no curso teórico. Além disso, está adaptando sua estratégia conforme a demanda ou realidade de seu território de atuação, seja ele na escola, numa unidade de conservação ou na própria comunidade. A contextualização na prática da realidade de demanda socioambiental é muito importante”, explicou Maya Baggio, gestora das ações de Ciência Cidadã pela AGEA e integrante da equipe do projeto Raízes da Cooperação.
Divididos em três grupos, os cursistas também puderam trocar experiências e colocar em prática o preenchimento do Protocolo de Monitoramento Participativo, onde analisaram o solo, as folhas, o tronco e outros elementos do manguezal. Esta é uma atividade essencial para ser colocada em prática no aplicativo Cientistas do Mar, desenvolvido pelo Projeto Raízes da Cooperação e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
O aplicativo de monitoramento participativo de manguezais e ecossistemas associados, em fase de uso experimental pelos cursistas, terá versão para web e android. Nele, será possível realizar o monitoramento de qualidade água, do manguezal, dos resíduos, das pradarias e marismas. “É uma ferramenta de ciência cidadã para todo mundo usar. O objetivo do aplicativo é servir de instrumento para a realização de monitoramentos participativos em atividades ou projetos socioambientais, na educação formal ou não-formal, em áreas urbanas, rurais ou protegidas”, explicou Maya.
Ana Maria Vasconcelos, professora de uma escola municipal de Florianópolis e coordenadora de um projeto de sustentabilidade dentro da unidade escolar, está desenvolvendo um projeto para construção de um viveiro de mudas de mangue. “Queremos restaurar a mata ciliar do Rio Capivari, próximo à escola, e que está bem degradado. Estou fazendo o curso para trocar experiências, adquirir conhecimento e aperfeiçoar nossa estratégia para conseguirmos construir no ano que vem esse viveiro”, disse.
Essas estratégias formuladas nas etapas teórico-práticas do curso serão aplicadas em 2024, quando acontecerá a terceira etapa da formação em Ciência Cidadã. É neste momento que esses participantes colocarão em prática as ações com seus públicos-alvo. “Na terceira etapa, estão previstas 30 saídas de campo com os públicos desses projetos em desenvolvimento. Ao todo, poderemos levar até 900 pessoas para conhecer os manguezais”, ressalta Maya.
Todas as estratégias de ação construídas pelos participantes do curso irão compor um Caderno de Metodologias Práticas, publicação que será disponibilizada de forma digital. “Esse caderno científico com estratégias de ação será uma espécie de material com as metodologias detalhadas para poder ser usado como exemplo por outras pessoas e replicado em outras escolas e comunidades”, explica Alessandra Fonseca, da UFSC.
As ações de educação ambiental e ciência cidadã do Projeto Raízes da Cooperação, executado pela Organização Nascente Maquiné (ANAMA), integram os objetivos do projeto que busca contribuir com a conservação de manguezais e ecossistemas associados da Grande Florianópolis, através de ações de restauração, educação e pesquisa científica.