Com o objetivo de promover a Ciência Cidadã no espaço escolar e nas comunidades do entorno de Unidades de Conservação da Grande Florianópolis, o Projeto Raízes da Cooperação, está desenvolvendo um curso com foco no monitoramento participativo de manguezais e ecossistemas associados. A proposta é apoiar educadores e gestores ambientais para atuarem na educação ambiental e ciência cidadã com foco nas mudanças climáticas e restauração de ecossistemas marinhos-costeiros.
Isso está sendo possível através de um processo formativo dividido em quatro etapas: curso teórico gratuito online e presencial (finalizado); aulas práticas com saídas de campo; apoio na realização de estratégias de ação e projetos que estão sendo desenvolvidos pelos cursistas; e um evento final “Conectando com outras raízes”, que acontecerá neste ano.
Ao longo de 2024, serão realizadas 30 saídas de campo aos manguezais, com os profissionais da educação e alunos das escolas da rede pública do entorno do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, da Estação Ecológica Carijós e da Reserva Extrativista Marinha do Pirajubaé. Ao todo, a previsão é de alcançar até 900 pessoas.
Em Palhoça, o Projeto Conexão Pelas Águas é um dos primeiros resultados. Com o objetivo de promover o esporte como ferramenta de “eco-formação cidadã”, integrando a prática esportiva ao conhecimento da cultura oceânica, da educação para adaptação climática e dos valores culturais da natureza, foi realizado pelas cursistas Ana Paula da Silva Weddigen e Maíra Azevedo. Ambas participaram das duas primeiras etapas do processo formativo. O projeto foi desenvolvido com os filhos dos colaboradores da Associação Procrep, na comunidade da Praia da Pinheira, organização de preservação ambiental, voltada para promoção da reciclagem, da economia solidária e da educação socioambiental. Durante 6 encontros com esses jovens que vivem em vulnerabilidade social, foram realizadas atividades recreativas, em terra e na água, com o objetivo de promover o reconhecimento dos ecossistemas do território e monitoramento ambiental participativo.
“Em terra, tivemos trilha orientada para reconhecimento territorial, coleta de resíduos recicláveis, rodas de conversa/contação de histórias, piquenique, e oficinas de arte-educação. Na água, reforçamos a conexão com os demais remadores e com a canoa, a percepção de nossa presença como parte da paisagem. Ampliamos o reconhecimento territorial, margeando os ecossistemas permeados pelo Rio da Madre, observamos a presença da fauna a eles associada, a relação entre o ambiente menos impactado e a significativa menor presença de resíduos. Em ambos os ambientes, utilizamos os Protocolos de Monitoramento proposto pelo curso “Ciência Cidadã e a Cultura Oceânica para o Enfrentamento da Emergência Climática”, explicou a bióloga e idealizadora do projeto, Maíra Azevedo.
“O curso abriu a minha mente e foi um divisor de águas. Muitas vezes não percebemos que estamos fazendo a ciência cidadã no dia a dia. Me ajudou muito a desenvolver ações voltadas para a cultura oceânica”, disse Ana.
Segundo a idealizadora do Conexão Pelas Águas, Maíra Azevedo, o projeto já era um sonho antigo e conseguiu ser aperfeiçoado com as aulas teóricas e práticas do Curso de Ciência Cidadã. “Enriquecemos a proposta inicial com conteúdos do curso e aproveitamos a mentoria ofertada para refinar o planejamento da ação. Além disso, agregamos os protocolos de monitoramento e uma atividade sensorial com olhos vendados, ambos oriundos do curso”, destacou.
Alunos de escolas públicas irão monitorar manguezais:
Janeiro foi o mês em que iniciaram as primeiras saídas de campo, das 30 previstas, para monitoramento de manguezais da Grande Florianópolis.
Com o objetivo de desenvolver um projeto para ser aplicado numa das disciplinas eletivas do novo ensino médio, as professoras da rede estadual de ensino e cursistas, Bianca de Oliveira da EEB Júlio da Costa Neves e Bianca Proença da EEB Vereador Oscar Manoel da Conceição, irão aplicar o Protocolo de Monitoramento Participativo com os alunos do ensino médio.
No primeiro encontro os alunos que estão cursando a disciplina “Conhecimentos Científicos e Ciência da Natureza”, realizaram dinâmicas lúdicas em sala de aula e fizeram a primeira saída de campo para o manguezal da Costeira do Pirajubaé, em Florianópolis. Na próxima saída, será a vez de aplicar o protocolo e estudar o ecossistema.
Como será feito o monitoramento participativo de manguezais:
Durante as atividades em campo, os alunos irão aprender a preencher o Protocolo de Monitoramento Participativo, onde serão analisados o solo, as folhas, o tronco e outros elementos do manguezal. Esta é uma atividade essencial para ser colocada em prática no aplicativo Cientistas do Mar, em desenvolvimento pelo Projeto Raízes da Cooperação.
O aplicativo de monitoramento participativo está em fase de elaboração e terá versão para web para monitoramento de manguezal. “É uma ferramenta de ciência cidadã para todo mundo usar. O objetivo do aplicativo é servir de instrumento para a realização de monitoramentos de forma participativa, seja em atividades de pesquisa, projetos socioambientais, na educação formal ou não-formal, em áreas urbanas, rurais ou protegidas”, explicou Maya Baggio, da AGEA.
No Projeto Conexão Pelas Águas, o protocolo de base, no formato físico, foi aplicado com as crianças. “Usamos o protocolo de monitoramento participativo dividindo as crianças em três grupos, para monitorar água, terra e resíduos. Foi um trabalho muito motivador. Observamos que eles estão mais críticos e cuidadosos com a praia depois desse projeto”, conta a tesoureira da Procrep, Ana Paula da Silva Weddigen .
Todas as estratégias de ação construídas pelos participantes do curso do Raízes irão compor um caderno de metodologias práticas, publicação que será disponibilizada de forma digital. “Esse caderno científico com estratégias de ação será uma espécie de material com as metodologias detalhadas para poder ser usado como exemplo por outras pessoas e replicado em outras escolas e comunidades”, explica Alessandra Fonseca, da UFSC.
As ações de educação ambiental e ciência cidadã do Projeto Raízes da Cooperação tem apoio da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Agência de Gestão e Educação Ambiental (AGEA), e integram os objetivos do projeto que busca contribuir com a conservação de manguezais e ecossistemas associados da Grande Florianópolis.
Você sabe o que é a Ciência Cidadã?
A ciência cidadã é resultado da parceria entre pesquisadores e comunidade, que pode ser planejada em conjunto desde a geração de uma hipótese, a partir de uma pergunta, e permear o desenvolvimento metodológico, a coleta de dados, sua análise e comunicação dos resultados gerados. No Raízes da Cooperação a ciência cidadã é construída a partir das demandas do território ou dos sujeitos da ação, na troca de saberes e no desenvolvimento de metodologias sensibilizadoras e participativas, para monitorar os ecossistemas alvo ou servir como atividade pedagógica inovadora.
Saiba mais sobre o Raízes a Cooperação:
O Projeto Raízes da Cooperação, executado pela Ação Nascente Maquiné (Anama), possui parceria da Petrobras, através do Programa Petrobras Socioambiental, e atua com pesquisa, educação e restauração, visando a conservação dos manguezais e ecossistemas associados inseridos na região hidrográfica litoral centro de Santa Catarina, englobando áreas do município de Palhoça, São José e Florianópolis.
Essa é a bacia hidrográfica com o maior índice populacional do Estado de Santa Catarina, onde também estão as principais nascentes de água para abastecimento da Grande Florianópolis. As principais ameaças a esses ambientes vêm da urbanização, de espécies exóticas invasoras, do esgoto, de incêndios e do aumento do nível do mar.